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Jornalistas relembram machismo e assédio nos bastidores da política: 'Hoje em dia devolvo constrangimento', diz Natuza Nery

Durante o mês que antecedeu as elei??es presidenciais de 2022,édionosbastidoresdapolíbingo matemático sistema de numera??o decimal os ataques às mulheres jornalistas cresceram 250%, segundo dados da Abraji (Associa??o Brasileira de Jornalismo Investigativo). O levantamento mostrou ainda que 50% das agress?es tiveram a participa??o de agentes estatais.

Um dos episódios mais emblemáticos foi protagonizado pela jornalista Vera Magalh?es, que foi ofendida pelo deputado Douglas Garcia durante um debate entre candidatos ao governo de S?o Paulo.

Em mais de uma ocasi?o, a colunista do jornal 'O Globo', comentarista da CBN e apresentadora do Roda Viva também foi publicamente atacada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a dizer que Vera "deveria dormir pensando nele".

Sexualiza??o como ataque à credibilidade

Em entrevista à Renata Ceribelli, a jornalista relembra os episódios ao lado das colegas de profiss?o Natuza Nery e Carol Pires. Vera Magalh?es avalia que, em boa parte dos ataques às profissionais da imprensa durante o governo Bolsonaro, havia "uma tentativa de sexualizar a mulher" que n?o acontecia ao acaso.

"é algo que ele tem ali, inerente a ele, e faz com jornalistas mulheres na tentativa de tirar a credibilidade.", afirma Vera.

'A gente era ensinada a n?o reagir'

O machismo no jornalismo político nunca foi exclusividade do bolsonarismo. Para construírem suas carreiras em um ambiente predominantemente masculino, as apresentadoras aprenderam a driblar piadas de colegas de profiss?o e tiveram até mesmo de enfrentar o assédio por parte de fontes.

"Eu agora devolvo constrangimento", afirma Natuza Nery, apresentadora da Central Globonews e do podcast O Assunto. "Quando o político me constrange, eu falo: 'E aí, senador, vai pagar o machismo no crédito ou no débito?'"

Assim como a presen?a feminina na política, o enfrentamento direto às abordagens machistas também tem avan?ado com o tempo. "A gente era ensinada a n?o reagir", relata Natuza. Ela ainda relembrou um episódio em que teve de encerrar a conversa com uma fonte após convites insistentes para jantar.

Ao justificar que n?o iria a Brasília por conta de um problema de coluna, a apresentadora ouviu do político que ele teria "uma massagista ótima em casa". "Eu falei: 'Quer saber? N?o falo mais com essa pessoa'".

1 de 2 Natuza Nery na Central GloboNews — Foto: Reprodu??o/ GloboNews

O mesmo aconteceu com Carol Pires, apresentadora do podcast Retrato Narrado e roteirista do documentário 'Democracia em Vertigem'. Durante a cobertura do impeachment de Dilma Roussef, a jornalista estendeu a m?o para cumprimentar um governador e, em vez de receber um aperto de m?o, foi tocada no lóbulo da orelha sem o seu consentimento.

"Ele falou 'que orelhinha gostosa' e continuou andando. Foi uma dessas situa??es em que você acha que está empoderada... Mas na hora foi paralisante."

Veja a entrevista completa no podcast Prazer, Renata

Mais mulheres na política

A hostilidade às mulheres na cobertura política é consequência da desigualdade de gênero nesta mesma esfera. O Brasil está entre os países com menor participa??o feminina nos parlamentos federais, apesar das reformas realizadas nos últimos anos para aumentar a igualdade de gênero na política.

"Sociedades onde a gente tem mais mulheres na política e mais mulheres na imprensa s?o democracias mais fortes, mais diversas e participativas", explica Carol. "Ent?o é claro que n?o querem mais mulheres na política. Isso faz com que homens brancos que sempre estiveram no poder tenham de dividir seu espa?o."

Para transformar essa estrutura patriarcal, as jornalistas acreditam na importancia de mulheres em posi??o de destaque se manifestarem contra o machismo. "De certa forma, a gente abre caminho", analisa Natuza.

2 de 2 Prazer, Renata com mulheres jornalistas. — Foto: Fantástico