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História Por Trás da Foto: Aos 75 anos, beijo que criou aura romantica de Paris registrou esperan?a pós-guerra e foi 'encomendado'

A partir da fotografia,óriaPorTrásdaFotoAosanosbeijoquecriouauraromanticadeParisregistrouesperan?apóconcurso quina 4173 Robert Doisneau ajudou a construir o imaginário romantico parisiense. “Le Baiser de l'H?tel de Ville” (em tradu??o livre, “O Beijo do H?tel de Ville”), uma das fotos mais reproduzidas do século 20, ilustra um beijo apaixonado há 75 anos, porém ensaiado na capital da Fran?a, revelou Francine Deroudille, filha do fotojornalista. Ele passeava pelas ruas de Paris com uma camera em m?os, sempre registrando os movimentos urbanos e as belezas corriqueiras do cotidiano. Apesar da imagem transbordar naturalidade e intimidade, como se os espectadores pudessem espiar um momento de conex?o amorosa entre dois amantes, n?o é t?o espontanea como parece .“A foto foi tirada na primavera de 1950. O agente do meu pai havia proposto uma série sobre 'os amantes de Paris' para publica??es americanas, e a revista Life a encomendou”, relembrou Francine, em entrevista à BBC. A fim de evitar problemas legais por direitos de imagem, ele fotografava amigos ou atores para as reportagens encomendadas. Para produzir essas fotos romanticas, o parisiense saiu com os estudantes de teatro apaixonados Fran?oise Bornet (na época, com o sobrenome de solteira “Delbart”) e Jacques Carteaud e deixou-os à vontade. "N?o posavam. Doisneau simplesmente os flagrava flertando e se beijando, de uma forma muito natural", descreveu. O clique perfeito veio em meio a um beijo apaixonado em frente à prefeitura da cidade. O contraste é curioso: parisienses caminham indiferentes ao gesto de carinho; carros trafegam pela rua e o movimento continua na capital da Fran?a. é um momento sensível apenas para os pombinhos "clicados", sugere a foto. A fotografia foi publicada na Life em 1950, porém caiu no esquecimento pelos 30 anos seguintes. Professor de fotografia e fotojornalismo na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Weiler Finamore Filho descreve que Doisneau já era um profissional de referência quando foi chamado para produzir o clique romantico. "Tinha fotos incríveis e era conhecido por ser um fotógrafo do cotidiano e da rua", reconhece. Fotografia "Café de Flores", tirada em 1947 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau — O papel do fotógrafo e, principalmente, do fotojornalista é ser um catalisador das informa??es que est?o no ar. Doisneau transforma visualmente as informa??es daquele contexto, em 1950, após a Segunda Guerra Mundial. O mundo estava se reconstruindo. A Europa estava se reconstruindo — observa. O professor universitário pontua que “Le Baiser de l'H?tel de Ville” é, inevitavelmente, "a representa??o daquela realidade de vida: de liberdade e do sentimento de vida possível, em que os jovens podiam pensar em um futuro". — Apesar da carranca das pessoas na cidade da foto (o que, talvez, emoldure ainda mais a sutileza do casal se beijando), o beijo foi real. Do ponto de vista histórico, a foto é perfeita. Amor em Paris A reputa??o de Paris, capital francesa, como a cidade mais romantica do mundo se desenvolveu gradualmente ao longo dos últimos séculos, devido a influências do romantismo e de associa??es artístico-culturais. As ruas charmosas, os monumentos e a atmosfera histórica contribuíam para essa idealiza??o, assim como inúmeras narrativas cinematográficas e da literatura que retratam o lugar como palco de amores inesquecíveis. — A foto n?o faz a aura romantica de Paris. Entendo que a Cidade da Luz te convida ao romance, de todo o tipo: conhecer lugares e pessoas, estar ali com pessoas queridas ou, até mesmo, sozinho. é a capital do mundo — avalia o fotógrafo Weiler Finamore Filho. Finamore observa que os pombinhos entregam o romantismo à cidade e, ao mesmo tempo, reafirmam a simbologia cultural da capital francesa. "Paris e o casal refor?am, em um pós-guerra brutal, uma luz de esperan?a, de leveza e de delicadeza. Acima de tudo, o casal de jovens aponta para o horizonte de existência de um futuro possível". Fotografia "Tricot sur berge", tirada em 1951 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau No contexto da década de 1950, marcado pela supervaloriza??o do amor romantico e pela idealiza??o da paix?o, a fotografia “Le Baiser de l'H?tel de Ville”, de Robert Doisneau, casou perfeitamente com esses ideais. A devo??o registrada no beijo vende a ideia de um romance épico, vivido em uma cidade encantadora, exatamente a narrativa que Life pretendia descrever. “As revistas americanas eram muito interessadas em histórias de Paris, especialmente aquelas que abordavam a vida nas ruas de Paris, onde as pessoas se comportavam com muito mais liberdade do que em qualquer outro lugar dos Estados Unidos. Mesmo nas ruas de Nova York, casais n?o eram vistos se beijando, e certamente nunca com tanta despreocupa??o”, opinou Francine Deroudille, filha do fotojornalista, à BBC. Apesar de ter feito sucesso na época, o fotógrafo demorou a reconhecer o valor da imagem. A foto reapareceu nos anos 1980, quando foi reproduzida em série e transformada em cartazes e postais. O sucesso foi massivo: o mundo se encantou novamente pelo beijo. "Todos percebemos que ele representava uma fantasia perfeita. Encapsula a vis?o mundial de Paris como a cidade do amor e da liberdade." Segundo Francine, o amor e admira??o que o pai sentia por Paris perduraram até sua morte, em 1994, aos 81 anos. Doisneau acompanhou as mudan?as sócio-culturais da Fran?a entre 1930 e 1980, além de ter eternizado essas transforma??es a partir da fotografia. "Paris tem essa beleza intrínseca que toca todos que a visitam ou vivem. Paris tem essa capacidade de fazer você feliz, isso certamente o deixou muito feliz", revela Deroudille. Fotografia "Jardins do Champs de Mars, Paris", tirada em 1944 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau O fotojornalista n?o enxergava genialidade em seus trabalhos, embora seu arquivo pessoal tenha aproximadamente 450 mil registros. Ainda em vida, criou uma classifica??o temática dos materiais para simplificar sua pesquisa. "As pessoas gostam das minhas fotos porque veem nelas o que veriam se parassem de correr e tirassem um tempo para apreciar a cidade", opinava Doisneau. — Como um francês que tirava fotos do cotidiano parisiense, Doisneau catalisava emo??es e "entregava o instantaneo", como foi na fotografia [“Le Baiser de l'H?tel de Ville”]. Mérito dele estar ali, vendo a história passar diante dos seus olhos, conseguir registrá-la em um segundo e resumir o sentimento da humanidade naquele instante — finaliza. Doisneau foi nomeado Chevalier (Cavaleiro) da Legi?o de Honra, a mais alta condecora??o francesa, em 1984 pelo presidente do país época, Fran?ois Mitterrand. O fotógrafo parisiense recebeu diversos outros prêmios ao longo da carreira. Casal fotografado Fran?oise Bornet e Jacques Carteaud conheceram Robert Doisneau em uma cafeteria, quando o fotojornalista convidou o casal para se beijar novamente em frente às suas lentes, revelou a mo?a da fotografia, à TV Francesa. Os pombinhos tiraram fotos em diversos cenários parisienses “romanticos”, como Place de la Concorde, a rua de Rivoli e o H?tel de Ville, onde o beijo foi clicado. Fran?oise relembrou a experiência ao jornal La Dépêche d’évreux: “Estava com meu namorado. N?o conseguíamos parar de nos beijar. Estávamos nos beijando em todos os lugares, o tempo todo.” Fotos de Robert Doisneau 1 de 16 Fotografia "Jean Settour, bar des BOF place des Innocents", tirada em 1972 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 2 de 16 Fotografia "Turistas e Tour Eiffel, Paris", tirada em 1950 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 16 fotos 3 de 16 Fotografia "Os auvergnats da rue Coulmiers", tirada em 1971 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 4 de 16 Fotografia "Jardins do Champs de Mars, Paris", tirada em 1944 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 5 de 16 Fotografia "Madame Rita rue de la montagne Sainte Geneviève", tirada em 1954 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 6 de 16 Fotografia "A Ponte Notre Dame no inverno", tirada em 1940 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 7 de 16 Fotografia "Tour Eiffel e estátua de la Liberté, Paris", tirada em meados do século passado por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 8 de 16 Fotografia "Tricot sur berge", tirada em 1951 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 9 de 16 Fotografia "Banho de sol no cais das Tulherias", tirada em 1928 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 10 de 16 Fotografia "Pescadores das margens do Sena", tirada em 1951 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 11 de 16 Fotografia "O plongeur da Pont d'lena", tirada em 1945 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 12 de 16 Fotografia "Ponte da Tournelle", tirada em 1951 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 13 de 16 Fotografia "A diagonal das marchas", tirada em 1953 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 14 de 16 Fotografia "Flipper au café", tirada em 1957 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade 15 de 16 Fotografia "Chez Pradal, rue de la Tombe Issoire, XIVème arrondissement", tirada em 1964 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau 16 de 16 Fotografia "Torre Eiffel", tirada em 1945 por Robert Doisneau em Paris — Foto: Atelier Robert Doisneau Pular X de 16 Publicidade O fotojornalista caputou a essência do cotidiano parisiense com sensibilidade e humanismo, elevando momentos comuns a imagens poéticas e emblemáticas. Ele é considerado um dos maiores fotógrafos de rua do século XX, conhecido pela abordagem terna e bem-humorada da vida urbana. O romance durou nove meses. Ela seguiu a carreira de atriz e se casou com outro homem. Carteaud, por outro lado, dedicou-se à produ??o de vinhos no sul da Fran?a até a morte, em 2004. Fran?oise morreu em janeiro do ano passado, aos 93. A atriz leiloou, em 2005, uma impress?o da foto assinada e carimbada por Doisneau. A imagem foi comprada por um colecionador suí?o por € 155 mil (cerca de R$ 834 mil). 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